Os leilões de imóveis, sejam judiciais ou extrajudiciais, apresentam várias características e normas legais. Nesse cenário, entender o que é jurisprudência faz toda a diferença, pois existe uma série de disputas, direitos de propriedade, validade de penhoras e outros pontos que surgem em leilões.
A jurisprudência entra como uma ferramenta importante para as pessoas que querem participar dessa modalidade de compra de imóveis. Por meio dela, é possível interpretar as leis e resolver possíveis conflitos de forma mais clara e correta.
Neste artigo, a Clever Educação vai explicar o que é jurisprudência, os dois principais tipos e como ela se aplica aos leilões de imóveis. Vamos lá!
O que é jurisprudência?
O termo jurisprudência tem origem do latim, jurisprudentia, que significa ciência do direito e das leis. De modo geral, a jurisprudência é um conjunto de decisões judiciais impostas por tribunais sobre um determinado tema ao longo do tempo.
Quando são tomadas essas decisões de maneira consistente, criam um padrão de interpretação que pode ser seguido por outros tribunais em casos semelhantes. Assim, a jurisprudência é a interpretação da lei aplicada a casos concretos, que servem, na prática, como uma orientação para o exercício do direito.
Ao entender o que é jurisprudência, você consegue ter mais clareza sobre a sua importância no sistema jurídico brasileiro. Ela ajuda a diminuir dúvidas e obter mais equidade nas decisões judiciais. Além disso, a jurisprudência serve como uma ferramenta essencial para advogados que querem agregar valor às suas argumentações com base em decisões anteriores, aumentando as chances de sucesso nas causas.
A importância da jurisprudência aos cidadãos
Para as pessoas em geral, a jurisprudência ajuda a garantir previsibilidade e justiça nas ações judiciais. Quando uma questão é levada ao tribunal, o cidadão pode se sentir mais tranquilo, pois seu caso será julgado de acordo com um entendimento pré-estabelecido, com base na jurisprudência.
Outro ponto é que, ao compreender o que é jurisprudência, ela fornece um papel educativo à sociedade. Isso porque ela orienta exatamente como as leis são aplicadas na prática. Ao consultar alguns casos, as pessoas conseguem entender melhor sobre seus direitos e deveres, o que facilita o cumprimento das leis.
Quais as diferenças entre jurisprudência, precedente e súmula?
Antes de explicarmos como a jurisprudência atua em leilões de imóveis, é fundamental compreender as diferenças entre jurisprudência, precedente e súmula. São três termos muito abordados no contexto jurídico, mas que apresentam significado e aplicações diferentes. Veja:
Precedente
O precedente é uma decisão isolada sobre determinado caso que pode servir como base para decisões futuras em casos semelhantes. Apesar de tecnicamente controverso, no Brasil, o conceito de precedente ganhou força após a implementação do Novo Código de Processo Civil em 2015.
Diferente do sistema de Common Law, onde os precedentes são obrigatórios, no Brasil, os precedentes servem mais como orientação, embora alguns possam ter efeito vinculante, como nos casos de repercussão geral ou recursos repetitivos julgados pelos tribunais superiores.
Súmula
A súmula é um resumo disposto em forma de enunciado sobre a posição consolidada de um tribunal sobre determinada questão jurídica. Todas as súmulas são criadas pelos tribunais, servindo como padronização das decisões judiciais.
Existem dois tipos de súmulas: persuasivas e vinculantes. As persuasivas orientam os juízes, mas não os obrigam, ao passo que as vinculantes necessitam ser seguidas obrigatoriamente por todos os juízos e tribunais.
Jurisprudência
Já a jurisprudência, como comentamos anteriormente, é um agrupamento de decisões judiciais que realizam uma interpretação da lei. Aqui, os precedentes e as súmulas podem ser incluídas, mas apresentam um conceito menos abrangente.
Nesse sentido, a jurisprudência é imprescindível para termos uma uniformidade e estabilidade nas decisões judiciais.
Quais são os dois tipos de jurisprudência?
Após entender o que é jurisprudência e a sua importância, saiba que também é essencial compreender a jurisprudência dos tribunais superiores e a jurisprudência dos tribunais de segundo grau. Cada uma delas tem um papel diferente no sistema jurídico. Confira a seguir:
Jurisprudência dos tribunais superiores
O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) são tribunais superiores responsáveis por uniformizar a interpretação das leis em todo o país.
Por exemplo, o STF é o guardião da Constituição e tem o objetivo de fazer com que as leis e os atos do poder público estejam em conformidade com a Carta Magna. Já o STJ tem a função de interpretar a legislação infraconstitucional, pacificando a jurisprudência em todo o país.
Considerando a autoridade desses tribunais na interpretação do ordenamento jurídico, suas reiteradas decisões sobre determinada matéria ostentam grande força diretiva dos posicionamentos seguidos pelos demais juízos e tribunais do país.
Jurisprudência dos tribunais de segundo grau
O Tribunais de Justiça estaduais e os Tribunais Regionais Federais são tribunais de segundo grau e têm a responsabilidade de julgar recursos contra decisões tomadas por juízes de primeiro grau.
A jurisprudência formada por esses tribunais têm o papel de garantir a melhor solução de determinado caso concreto à luz da interpretação a ser conferida à legislação que lhe serve de base, garantindo, assim, uma aplicação consistente do ordenamento jurídico a nível local, com irradiação de seus efeitos como guia interpretativo para todo o Brasil.
Por mais que a jurisprudência dos tribunais de segundo grau não apresente o mesmo peso das decisões dos tribunais superiores, ainda contam com um papel importante na aplicação do direito.
Qual o papel da jurisprudência em leilões de imóveis?
Mas, afinal, como a jurisprudência se aplica em casos de leilões de imóveis? Ela tem um papel importante na avaliação das dívidas do imóvel, na regularidade do procedimento de leilão e em outros aspectos.
Em situações em que há credores, locatários ou o dono do imóvel, a jurisprudência entra como uma ferramenta que fornece uma base sólida de conhecimento sobre as leis.
Dívidas do imóvel
A responsabilidade pelo pagamento das dívidas dos imóveis arrematados em leilão é regulada pela Lei nº 9.514/97, pelo Código de Processo Civil (CPC) e pelo Código Tributário Nacional (CTN).
A partir de uma interpretação literal desses dispositivos, a responsabilidade pelo pagamento dessas dívidas não recai sobre o arrematante.
Contudo, a jurisprudência interpreta aludida legislação como uma norma dispositiva (com força normativa mais branda e flexível do que as normas cogentes ou impositivas, por exemplo), de sorte que autoriza os editais passarem toda a responsabilidade pelo pagamento dessas dívidas para o arrematante.
Logo, conhecer toda a jurisprudência acerca das dívidas dos imóveis arrematados em leilão é imprescindível para quem pretende trabalhar ou investir nesse segmento.
Validade das penhoras e demais gravames
Outro aspecto muito debatido em leilões é a validade das penhoras e demais ônus gravados na matrícula do imóvel.
Nessa situação, a jurisprudência define os critérios em que esses gravames são considerados válidos ou não ou não. Isso protege os direitos dos credores e facilita o processo justo de um leilão.
Algumas decisões, por exemplo, permitem que o próprio imóvel gravado com alienação fiduciária (e não os direitos do devedor fiduciante, por exemplo) seja penhorado e vá a leilão judicial, o que, com efeito, possui grandes implicações jurídicas para quem pretende participar dessa hasta pública.
Regularidade do procedimento de leilão
A regularidade do procedimento de leilão é também comumente contestada em juízo e a jurisprudência fornece parâmetros claros para avaliar a legalidade do processo.
Situações como a correta publicação dos editais de leilão, o cumprimento dos prazos legais e a transparência na condução do leilão são todas influenciadas pela jurisprudência.
A jurisprudência e a arrematação de imóveis irregulares
Outro ponto importante, ao se compreender o que é jurisprudência, é verificar a sua influência na arrematação de imóveis irregulares.
Existem casos em que a jurisprudência, mesmo com o imóvel na posse do arrematante, aduz que ele pode ser responsabilizado por regularizar pendências legais sobre a propriedade. Por exemplo, o novo proprietário deverá providenciar as licenças que não foram obtidas pelo antigo dono.
Entretanto, é essencial salientar que a jurisprudência também protege o arrematante, estabelecendo que ele não deve ser penalizado por irregularidades não informadas no edital ou durante o leilão.
E como ela se aplica em casos de anulação de leilões?
Nesta situação, a jurisprudência diz que, para um leilão ser anulado, é necessário comprovar que ocorreu um prejuízo real para uma das partes envolvidas no processo. Se o devedor não foi notificado sobre o leilão, por exemplo, ele pode contestar a validade do leilão e o tribunal deve decidir ou não pela anulação.
Além disso, a jurisprudência também aborda a questão da venda de imóveis por valores muito abaixo do mercado, que é um indício de irregularidade. Em tais casos, os tribunais têm analisado se o preço de arrematação foi injusto ao ponto de justificar a anulação do leilão, considerando o princípio da função social da propriedade e a proteção aos direitos do devedor.
🏠 Leia também — Cancelamento de leilão após a arrematação? Saiba como se proteger
Onde pesquisar jurisprudência?
Se você é uma pessoa interessada em adquirir imóvel em leilão ou, até mesmo, um advogado, é essencial saber onde pesquisar jurisprudência. Os melhores canais são:
- Consultar sites do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ): ambos possuem bases de dados sobre decisões judiciais e súmulas;
- Verificar as plataformas de Tribunais de Justiça Estaduais e Regionais: é possível consultar a jurisprudência local, sendo importantes para casos que serão julgados nesses tribunais.
Então, conseguiu entender o que é jurisprudência e a sua aplicação em leilões de imóveis?
Ela é muito importante para garantir a regularidade de processos e proteger os direitos de todas as pessoas, oferecendo segurança jurídica adequada.
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