O universo dos leilões de imóveis é vasto e apresenta diversas modalidades que podem gerar excelentes oportunidades de investimento. Entre elas, o leilão judicial de direitos do devedor fiduciante se destaca por suas particularidades e potencial de rentabilidade, mas também exige um conhecimento aprofundado para mitigar riscos.
Neste artigo, vamos desvendar todos os aspectos dessa modalidade, desde o conceito básico até as implicações práticas para arrematantes, credores e devedores.
O Que São Leilões de Direitos?
Antes de mergulharmos especificamente nos direitos do devedor fiduciante, é crucial entender o que caracteriza um “leilão de direitos”.
Ao contrário do leilão de propriedade plena – onde o próprio bem é leiloado -, o que se leiloa no leilão de direitos são, com o próprio nome indica, os direitos que uma pessoa (o executado) tem sobre um imóvel específico, e não a propriedade em si. Isso geralmente acontece quando o titular desses direitos ainda não completou todas as etapas legais necessárias para se tornar o proprietário oficial do imóvel no Cartório de Registro de Imóveis.
Uma forma simples de identificar um leilão de direitos é verificar se o devedor da execução que está levando o imóvel a leilão consta como proprietário na matrícula. Caso não, muito provavelmente se trata de um leilão judicial de direitos.
Entendendo a Alienação Fiduciária
Para compreender o leilão de direitos do devedor fiduciante, o primeiro passo é entender o que é a alienação fiduciária. Trata-se, com efeito, de uma modalidade de garantia muito comum em financiamentos imobiliários. Nela, o devedor (fiduciante) transfere a propriedade resolúvel do imóvel ao credor (fiduciário, geralmente uma instituição financeira) como garantia do pagamento da dívida.
Isso significa que, enquanto o devedor não quita a dívida, o credor fiduciário mantém a propriedade do imóvel, embora o devedor fiduciante conserve a posse direta e o direito de uso. Somente após a quitação integral do financiamento é que o devedor fiduciante adquire a propriedade plena do bem.
O Que é o Leilão Judicial de Direitos do Devedor Fiduciante?
O leilão judicial de direitos do devedor fiduciante ocorre em situações específicas. Acontece quando o devedor fiduciante, que paga um financiamento com alienação fiduciária, possui outras dívidas cobradas judicialmente. Nesse cenário, o Poder Judiciário não pode penhorar o imóvel em si. Isso porque a propriedade pertence ao credor fiduciário. Em vez disso, o juiz determina a penhora dos direitos que o devedor fiduciante possui sobre aquele bem.
Esses direitos incluem, principalmente:
- O direito de reaver a propriedade plena do imóvel após a quitação do contrato de alienação fiduciária.
- O valor econômico que corresponde às parcelas do financiamento que o devedor já pagou.
- A posse direta do imóvel.
Ao arrematar esses direitos, o arrematante, em regra, assume a posição do devedor fiduciante no contrato de alienação fiduciária, incluindo tanto os direitos quanto as obrigações remanescentes, como o saldo devedor do financiamento.
📋 Leia também: O que significa alienação fiduciária?
Como Funciona o Procedimento?
O procedimento de um leilão judicial de direitos do devedor fiduciante segue algumas etapas cruciais:
- Penhora dos Direitos: O juiz determina a penhora dos direitos aquisitivos do devedor fiduciante sobre o imóvel.
- Intimação do Credor Fiduciário: O credor fiduciário (a instituição financeira) deve ser obrigatoriamente intimado sobre a penhora e o leilão. Essa intimação é fundamental para a validade do ato e para que o credor possa exercer seus direitos, como o de preferência na arrematação ou o de se habilitar para receber seu crédito.
- Avaliação dos Direitos: A avaliação para fins de leilão, neste caso, pode ser complexa. Idealmente, ela deveria se basear no valor dos direitos do devedor (ou seja, o que ele já pagou do financiamento, descontado o saldo devedor). No entanto, muitas vezes avaliam o imóvel com base em seu valor total, o que pode causar distorções e tornar a arrematação inviável, pois o arrematante precisa pagar o lance mais o saldo devedor do financiamento.
- Edital do Leilão: O edital deve especificar claramente que o objeto do leilão são os direitos do devedor fiduciante e não a propriedade plena, além de informar sobre a existência da alienação fiduciária e o saldo devedor aproximado.
- Arrematação: O interessado que oferecer o maior lance arremata os direitos.
- Sub-rogação nos Direitos e Deveres: O arrematante se sub-roga nos direitos e deveres do devedor fiduciante original perante o credor fiduciário. Isso significa que ele assume o saldo devedor do financiamento e, ao quitá-lo, poderá obter a propriedade plena do imóvel.
Riscos e Pontos de Atenção para o Arrematante
Embora possa oferecer uma oportunidade, o leilão de direitos do devedor fiduciante envolve riscos que você precisa analisar cuidadosamente:
- Assunção do Saldo Devedor: O principal ponto de atenção é que o arrematante assume o saldo devedor do contrato de alienação fiduciária. É crucial verificar o valor exato desse saldo antes de dar qualquer lance.
- Análise da Viabilidade Financeira: O arrematante deve somar o valor do lance com o saldo devedor do financiamento e comparar com o valor de mercado do imóvel. Se essa soma for superior ao valor de mercado, a arrematação pode não ser vantajosa.
- Condições do Contrato de Alienação Fiduciária: É importante analisar as condições do contrato original, como taxas de juros, prazo remanescente e eventuais seguros obrigatórios.
- Estado de Conservação do Imóvel: Como em qualquer leilão, verificar o estado de conservação do imóvel é fundamental.
- Posse do Imóvel: Verificar se o imóvel está ocupado e quais seriam os custos e o tempo para desocupação, se necessário.
- Intimação do Credor Fiduciário: Certificar-se de que o credor fiduciário foi devidamente intimado no processo. A ausência dessa intimação pode gerar a nulidade do leilão.
Vantagens Potenciais
Apesar dos riscos, existem vantagens que podem tornar essa modalidade atrativa:
- Menor Concorrência: Por ser uma modalidade mais complexa, geralmente há menos interessados, o que pode resultar em arrematações por valores mais baixos (considerando o valor dos direitos, não do imóvel pleno).
- Oportunidade de Adquirir um Imóvel Financiado: Para quem tem recursos para quitar o saldo devedor ou assumir as parcelas, pode ser uma forma de adquirir um imóvel que, de outra forma, não estaria disponível no mercado pelo mesmo preço.
O Que Acontece com a Dívida do Contrato de Alienação Fiduciária?
Quando os direitos do devedor fiduciante são leiloados e arrematados, o arrematante assume a obrigação de pagar o saldo devedor do financiamento diretamente ao credor fiduciário. É fundamental que o arrematante tenha clareza sobre essa obrigação e negocie com o credor fiduciário a transferência do financiamento ou a quitação do saldo devedor.
Contudo, se o lance for baseado no valor de avaliação do imóvel e não dos direitos do devedor, há possibilidade do saldo devedor ser total ou parcialmente quitado com o produto da arrematação, desde que o credor fiduciário habilite seu crédito na ordem de concurso de credores. Isso porque o valor arrecadado no leilão é utilizado para pagar os credores do devedor fiduciante. Dentre esses, inclui-se o credor com garantia real, que, no caso, é o credor fiduciário.
Cabe, portanto, avaliar se, além de intimado, o credor fiduciário habilitou seu crédito e quais são os demais créditos preferenciais na ordem de concurso de credores. A depender do cenário, pode ser que não sobre dívida ao arrematante.
Exceção: Penhora da Propriedade por Dívidas Propter Rem (Ex: Condomínio)
Existe uma situação específica em que o próprio imóvel alienado fiduciariamente pode ser penhorado, e não apenas os direitos do devedor. Isso ocorre em casos de dívidas propter rem, ou seja, dívidas que acompanham o próprio bem, como as dívidas de condomínio e IPTU.
Recentemente, a 2ª Seção do STJ consolidou o entendimento de que, na execução de dívida condominial de imóvel alienado fiduciariamente, é possível a penhora do próprio imóvel. Nesse caso, o arrematante adquire a propriedade plena, devendo o credor fiduciário (instituição financeira) habilitar seu crédito no concurso de credores para receber o que lhe é devido do produto da arrematação após o pagamento das dívidas preferenciais (como a do condomínio).
Se o valor da arrematação não for suficiente para quitar o financiamento, o credor fiduciário poderá cobrar o saldo remanescente do devedor fiduciante original, mas já terá perdido a garantia do imóvel.
⚖️ Confira: STJ Autoriza Penhora de Imóvel Alienado Fiduciariamente por Dívidas de Condomínio: Entenda o Impacto
Dicas Importantes para o Arrematante
- Análise Detalhada do Edital: Leia atentamente o edital do leilão, que deve conter todas as informações relevantes sobre o bem, a dívida e a alienação fiduciária.
- Consulta ao Processo Judicial: Analise os autos do processo judicial para entender a origem da dívida, verificar as intimações e eventuais recursos pendentes.
- Verificação da Matrícula do Imóvel: Solicite uma certidão atualizada da matrícula do imóvel para confirmar a existência da alienação fiduciária e outros possíveis ônus.
- Informação Atualizada do Saldo Devedor: Verifique nos autos do processo se consta informação da instituição financeira sobre o saldo devedor atualizado.
- Contato com o Credor Fiduciário: Antes do leilão, entre em contato com a instituição financeira e verifique as condições para quitação ou transferência do financiamento.
- Analise o Concurso de Credores: Se basearem o lance no valor de avaliação do imóvel, analise o concurso de credores. Verifique se é possível quitar o saldo devedor com o valor arrecadado na arrematação.
- Assessoria Especializada: Contar com o auxílio de um especialista em leilões de imóveis é fundamental para analisar todos os riscos e garantir uma arrematação segura.
O leilão judicial de direitos do devedor fiduciante é uma modalidade de arrematação que pode oferecer boas oportunidades, mas que exige um nível de análise e cautela superior ao dos leilões de propriedade plena. Compreender a dinâmica da alienação fiduciária, os direitos e deveres envolvidos, e realizar uma investigação completa sobre o imóvel e o contrato são passos essenciais para o sucesso nesse tipo de investimento.
Conclusão
Com a devida diligência e, preferencialmente, com o suporte de profissionais especializados, é possível transformar os desafios dessa modalidade em excelentes negócios.
Torne-se um Expert em Leilões de Imóveis!
Quer dominar todas as modalidades de leilão, incluindo o leilão de direitos do devedor fiduciante, e aprender a identificar as melhores oportunidades com segurança? Inscreva-se no curso Expert em Leilão de Imóveis da Clever Educação!
Nossos especialistas vão te guiar por todos os segredos dos leilões, desde a análise de editais até as estratégias de arrematação e regularização de imóveis. Não perca mais tempo e invista no seu conhecimento!
Fique por Dentro!
Siga a Clever Educação nas redes sociais e não perca nenhuma novidade sobre o mercado de leilões e direito imobiliário:
- YouTube: Canal Clever Educação
- Instagram: @clever.educacao